terça-feira, 24 de março de 2009

Pedras Ambulantes

Planta-se brisas,
Colhem-se pedras.
Tão-somente olho o passado
Para ver o futuro.

Vêr com clareza o infinito
Olhando um ambiente turvo.
Onde esta a piedade?
Exploro a minha modéstia.

As pedras frias
Da ribeira da minha Aldeia
Penetram nas veias letárgicas
Ambições fortes feito mosto,
Consomem imparcialidades.

Pedras ambulantes não sentem
Apenas existem,
Porque as pinto.
São almas da minha perdição…

Daniel Lopes “isibraiego”

segunda-feira, 23 de março de 2009

100 Volta- Filme de Daniel Souza

Link directo do site do filme http://www.100volta.com/index2.html onde participa a minha querida amiga Silvia Ferreira, Filósofa de Aveiro...

quarta-feira, 11 de março de 2009

Reconquista 1973

" O que doi é esta solidão, onde as mulheres carregadas de luto escondem o rosto e recusam as palavras".

Sermão da Sexagésima do Padre António Vieira

O sermão da Sexagésima foi pregado na capela real de Lisboa, no ano de 1655. O Sexagésima é um todo de 10 capítulos. Pregada em tempo de Quaresma para a corte. Seu tema é: a palavra de Deus (“ sémen est verbum Dei “).
O início do Sermão fala lembrando todos os pregadores de coragem que invocam a palavra de Deus nas colónias da coroa, aqueles que passam sacrifícios para evangelizar hão de ser lembrados para todo o sempre.
Depois é referido no texto uma parábola, lembrando quando Cristo mandou pregar pelo mundo, disse-lhes: Euntes in mundam universum, praedicate omni creature; ide e pregai a toda a criatura. Ele indaga se os animais também são criaturas, toda a natureza é criatura.
De seguida puxa o seu discurso para uma descrição da saga de um missionário em terras insópidas de vera cruz (“ houve missionários afogados, porque uns se afogaram na boca do grande rio Amazonas; houve missionários comidos, porque a outros comeram os bárbaros na ilha dos Arões; houve missionários mirrados, porque tais tornaram os da jornada dos tocantes, mirrados da fome e da doença, onde tal houve, que andando vinte e dois dias perdidos nas brenhas matou somente a sede com o orvalho que lambia das folhas”).
Padre Vieira ao pregar este sermão não o faz só com a intuição de o pregar para a corte, mas no fundo mostrando o trabalho dos Jesuítas na colonização do Brasil, persuadindo na esperança de apoio obter apoio e colaboração da coroa. Apressando-se e justificando que tudo o que faz é em gloria de Deus. Continua na sua reiteração “…Será bem, nem Deus quer que seja, nem há de ser”, nesta parábola visa sensibilizar a corte para as injustiças que geravam pobreza e fome na colónia.
O primeiro capitulo é praticamente de introdução, com clara motivação politica.

Na segunda parte retoma para o plano espiritual ao interpretar a parábola "O trigo que semeou o pregador Evangélico, diz Cristo, que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho, e a terra boa, em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque ou a desatendem, ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons, ou os homens de bom coração, e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum.”
Na parte final invoca a arte de bem pregar, pois bom pregador tinha que persuadir o ouvinte e este percebendo que Deus com a sua graça o pode iluminar.
No capítulo Três, o autor levanta uma proposição para saber a que atribuir o pouco fruto que a palavra de Deus produzia no mundo. Essa proposição verificará três causas: a) a parte do pregador, b) a parte do ouvinte, c) a parte de Deus. Essas três causas são associadas a três factores: a) há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; b) há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; c) há-de concorrer Deus com a graça, alumiando. A esses três factores o autor associa ainda três instrumentos: a) olhos, b) espelho, c) luz. Então passa a distribuir e a associar esses três instrumentos por competência, segundo a sua natureza: a) O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; b) Deus concorre com a luz, que é a graça; c) O homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Expostas todas as variáveis de seu discurso, verificará então cada um dos itens para saber qual dos factores está interferindo no frutificar da palavra de Deus. O procedimento passa então a ser por exclusão: a) o primeiro factor a ser testado é a própria palavra de Deus. Apoiando-se na autoridade da Igreja, descarta a possibilidade de que seja a palavra de Deus a causa da pouca adesão à fé e, retomando a parábola do semeador, o autor propõe argumentos lógicos para provar que a palavra de Deus é eficaz. b) O segundo factor a ser dissecado é o ouvinte, em quem o autor também não encontra culpa pelo pouco fruto da palavra de Deus, pois, por mais que sejam maus, a palavra de Deus neles faz efeito. c) Efectuadas as duas demonstrações acima, conclui por consequência que a culpa dos pregadores o suposto pouco fruto e efeitos que a palavra de Deus exerce no mundo.
O quarto capitulo do Sermão começa, reiterando as qualidades que um pregador deve ter: deve persuadir, convencer, transformar e apresentar coerência no que diz e o que pratica. O pregador tem que semear para depois colher até Deus não ficou só nas palavras quando fez promessas a Abrão e enviou o seu filho ao mundo. As grandes obras são bem vistas aos olhos do mundo enquanto que as palavras levam o vento, no texto a uma parábola que refere:”A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos.”
Depois dá o exemplo de João Baptista que pregava a penitência vivia no deserto alimentando-se de gafanhotos; condenava a vaidade, vestia-se com peles de camelo de camelo; pregava no retiro e fugia das cortes:”ECCE HOMO”:” eis aqui o homem que deixou as cortes e as cidades e vive no deserto e numa cova. Se os ouvintes ouvem uma coisa e vêem outra, como hão de se converter?” Pois a questão que surge é qual será a falha para o pregador não comunicar?
No quinto capítulo do Sermão Padre António Vieira, responde a questão em cima citada, a falha da comunicação estaria no estilo do pregador.
"Um estilo tão dificultoso, um estilo tão afectado, um estilo encontrado a toda arte e a toda natureza?... O estilo há de ser muito fácil e muito natural... Por isso Cristo compara o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte... O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha, ou azuleja... O estilo pode ser muito claro e muito alto, tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito que entender nele os que sabem".
O que o P. António Vieira quer dizer é que todo e qualquer discurso deve ser do entendimento geral de todos, dos mais sapientes e os menos sapientes.

No sexto capitulo reitera que o sermão precisa de ter unidade para persuadir. Não deve de tratar de muitos assuntos ao mesmo tempo. "Quem levanta muita caça e não segue nenhuma, não é muito que se recolha com as mãos vazias". Pois o pregador tem que pegar numa só matéria, defini-la para que se conheça, dividi-la para que distinga, prová-la com a Escritura, declará-la com a razão, confirmá-la com o exemplo, amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela.
No sétimo capitulo diz que cada pregador deve pregar o seu sermão, não o sermão alheio. O sermão deve sair da inteligência do pregador e não da sua boca: “ o que sai só da boca, pára nos ouvidos; o que nasce do juízo penetra e convence o entendimento.”
No oitavo capitulo faz referencia a falta de voz dos pregadores: “ Antigamente pregavam bradando, hoje pregam conversando.”
Pois o povo por vezes olha mais aos brados do que propriamente a razão e isso encontra-se na parábola de Cristo quando estava na corte de Pilatos que tinha a favor a sua razão, e tinha contra si os brados da multidão. "A razão não valeu para o livrar, os brados bastaram para o por na cruz. E como os brados no mundo podem tanto, bem é que bradem alguma vez os pregadores, bem é que gritem".
Afinal, Moisés não tinha grande voz, mesmo assim convencia e persuadia.
No capítulo nove, o P. António Vieira chega a conclusão que os sermões dão pouco fruto, porque na verdade, não se prega a palavra de Deus: "As palavras de Deus pregadas no sentido que Deus as disse, são palavras de Deus; mas pregadas no sentido que nós queremos, não são palavras de Deus, antes podem ser palavras do demônio."
No caso da tentação de Cristo por exemplo: "Todas as Escrituras são palavras de Deus; pois se Cristo toma a escritura para se defender do diabo, como toma o diabo a Escritura para tentar a Cristo? A razão é porque Cristo tomava as palavras da Escritura em seu verdadeiro sentido, e o diabo tomava as palavras da Escritura em sentido alheio e torcido".
No capítulo dez, é relatado que os bons pregadores começam a espalhar a palavra de Deus pelo reinado:“Enfim, para que os pregadores saibam como hão de pregar; e os ouvintes, a quem hão de ouvir, acabo com um exemplo do nosso reino, e quase dos nossos tempos. Pregavam em Coimbra dois famosos pregadores, ambos bem conhecidos por seus escritos. Não os nomeio, porque os hei de desigualar”. Padre António Vieira acaba por dizer que devemos ouvir todos os bons pregadores e quando os ouve acaba por sair descontente com ele mesmo, pois os costumes, as vidas, os passatempos, as ambições e os pecados são diferentes em todos os pregadores. O que se deve combater nos pregadores e todos aqueles que atentam a palavra de Deus, aos ódios, as ambições enganosas, as cobiças do alheio e invejas. No fundo o que quer dizer e que todo o bom pregador deva seguir o caminho de Deus para atingir o êxito como distinto pregador. Pois quem pratica o bem um dia vai colher frutos e ser reconhecido para o resto de suas vidas. Tal como ele utilizando-se da retórica Jesuíta no trabalho das ideias e conceitos, mostrou-se um Barroco conceitista, no desenvolvimento de ideias lógicas, destinadas a persuadir publico, e clássico na clareza e simplicidade de expressão.

Daniel Fernando Martins Lopes

terça-feira, 10 de março de 2009

Agarrados à Cadeira do poder II


Há que reconhecê-lo: há incompetência, fragilidades e até contradições. Se as não identificar-mos e as não aceitarmos com honestidade e transparência, o diálogo continuará a não existir, a agressão e o insulto crescerão e, para gáudio dos que querem que nada mude, a chacota política prevalecerá…